terça-feira, 16 de abril de 2013

Canção do Exílio













Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 
De Primeiros cantos (1847)

o Romantismo brasileiro

O Romantismo (com R maiúsculo) é a escola literária que prevaleceu no Brasil durante boa parte do século XIX. Teve seu início com a publicação de Suspiros poéticos e saudades de Gonçalves de Magalhães em 1836, que marcou a nossa primeira geração romântica, também conhecida como geração indianista, nacionalista ou ufanista.

Baseado nos moldes europeus, que exaltavam os feitos de cavalaria e eram escritos para a classe burguesa emergente, o Romantismo brasileiro pelo motivo de não termos tido a era medieval e nem os cavaleiros e guerreiros, exaltava o índio e a nossa natureza. O poeta Gonçalves Dias eternizou-se na canção do exílio na qual o eu-lírico, longe do Brasil, narrava as nossas belezas com saudade.

As principais propostas do movimento eram o rompimento com os moldes clássicos, a valorização da subjetividade, o não culto à forma, a exaltação da natureza e dos heróis nacionais (no nosso caso o índio), e a exacerbação dos sentimentos tais como amor, saudade, desejo de fuga e morte. O melancolismo romântico ficou evidente sobretudo na segunda geração, também conhecida como Geração ultra-romântica, Byronismo, mal do século, e satanismo.

Íntima e diretamente atrelada à monarquia, teve seu impulso devido à chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 que trouxe consigo além do "desenvolvimento" para a nação, a cultura européia. Além disso era comum na época que os intelectuais e os jovens estudantes morassem um tempo na Europa e lá mantivessem contato com os movimentos artísticos em voga, o que justifica o relativo atraso de tais propostas começarem tardiamente no Brasil.

Em se tratando da Segunda Geração Romantica, tivemos como maior representante o poeta Álvares de Azevedo que escrevia poesias e prosas tanto de valor idealizável quanto melancólico. A Lira dos vinte anos, Macário e Noite na Taverna são os exemplos do grande devaneio romântico, causando inclusive estranheza aos leitores acostumados às literaturas que exaltavam a vida e o belo. No último livro, por exemplo, encontramos explícitos casos de necrofilia, orgias e horror, fortemente influenciados pelos escritos do poeta inglês Lord Byron.

É válido ressaltar que mesmo com as propostas definidas para o Romantismo, nossos poetas não conseguiram se desvencilhar completamente das escolas anteriores e nem da influência européia, por isso, mesmo pregando o valor aos versos brancos (sem rima), encontramos sonetos e redondilhas o que denotava que nossos poetas ainda se preocupavam com a forma, o que não era característica própria do movimento.

A terceira e última geração, também chamada Condoreirismo esteve atrelada ao enganjamento social abolicionista, no qual destacou-se Castro Alves narrando o sofrimento dos escravos em Navio Negreiro e Espumas Flutuantes. A geração teve o marco final com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1888, do escritor Machado de Assis. O livro foi considerado o divisor de águas entre o Romantismo e o Realismo/Naturalismo. Machado teve em seus primeiros romances a fase românticas com as publicações de Helena A mão e a luva, dentre outros, mas com Brás Cubas e o realismo é que atingiu a sua fase de maturidade.

Texto de: Carlos Henrique Teixeira


Segue Abaixo um vídeo muito interessante sobre o Romantismo. Apesar de bem antigo, o que poderia desinteressar os estudantes, recomendo pois aborda de maneira dinâmica e sintetizada os ideais da escola literária:




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Soneto


Soneto

Nunca viram meus olhos mais fermosa
Nem fiel representação mais bela!
Uma  figura de mulher aquela
Do tipo sedutora e mais fogosa!

Negros cabelos soltos, face rosa;
Prostrada na cama se foi donzela.
Mas quando afinal levantou-se dela,
Emergiu-se ainda mais graciosa!

Em mim já nem soía igual desejo;
Mas quando eu lembro ou quando em sonhos vejo
A reprodução daquele momento,

Sinto-me pelo instinto dominado,
Esperando o dia que for marcado
Para esse nosso vil contentamento!

(Carlos Jazz)


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Da Politicagem Brasileira:



Aproveitando o burburinho do pós-eleição, venho trazer uma matéria sobre o assunto.
É incrível e ao mesmo tempo revoltante a capacidade que o povo brasileiro possui em ser reles. É um cidadão com potencial nato à ignorância e ainda se acha no direito de reclamar quando lhe esfregam a verdade na cara

São mais analfabetos políticos que o do poema de Berthold. A nação inteira divide-se em partidos, discutem política como se estivessem defendendo a própria vida. Tendem ao fanatismo da mesma maneira como vêm fazendo no futebol, que não é nem nunca será uma utilidade nacional. O pior é que essa mesma convicção com a qual defendem os partidários e propostas acaba desaparecendo tão logo o movimento político esfria. Tudo parece cair no esquecimento e no conformismo.

São analfabetos políticos sim, pois defendem que odeiam política, mas não possuem garras para lutar pelo que de fato merece prioridade. Se tivéssemos uma nação consciente, o cenário da educação seria outro, a nossa infraestrutura seria outra, o país seria outro! Infelizmente as pessoas só lembram-se de reclamar por condições de saúde quando precisam ir ao hospital, enfrentar filas por um transplante, ser recebido com um descaso que não receberia se certamente estivesse em um hospital particular. Mas não é o hospital público fruto do nosso dinheiro também? A escola pública não acaba saindo do nosso bolso? Por qual razão existem tamanha disparidade em relação às particulares?

Não é com greves que conseguiremos atingir o objetivo de uma melhora no país, mas com trabalho. Não é parando todo o sistema educacional, mas conscientizando. Organizando e  mobilizando, porque a estagnação gera ignorância por mais tempo e é exatamente isso que eles querem. Abram os olhos! Os escândalos vêm e vão e ninguém faz nada! A juventude apenas pensa em prazeres imediatistas, não possuem a mesma garra de outrora! Os velhos parecem ter esquecido que a nação que sonhamos é possível! Aonde está o povo brasileiro?



Deixam-se alienar pela mídia, vibram com programas que mostram gente fútil brigando por coisas igualmente fúteis, assistem novelas que em nada retratam a realidade nacional, e ao final do dia acham-se no direito de questionar por melhorias políticas! Nós não precisamos de tantos vereadores, não precisamos de tantos impostos que sabemos que vão parar nos bolsos corruptos da grande maioria de políticos sacanas. Eles alegam que não possuem verba para melhorar a educação, mas planejam eventos mundiais de esporte, construção de estádios e publicidade, vendendo uma imagem para o povo estrangeiro e esquecendo das pessoas que aqui vivem. Não possuem verba para aumentar o salário do servidor público, mas promovem projetos para aumentar o próprio salário!

O povo acha que ao falar mal dos políticos, passa-se por sábio. Que doce ilusão! A politicagem sim é um verme que devemos extinguir, mas não devemos jogar a confiança assim sem luta. Não acredito no sistema eletrônico de apuração. Se computadores secretíssimos do governo americano conseguem ser rackeados, não me admiraria um dia ver uma notícia de algo semelhante com as eleições brasileiras. Creio que isto seria ainda mais fácil que nas eleições feitas no papel. É preciso desconfiar!

O pior de tudo é quando alguns esclarecidos tentam lutar por um país que não quer ser mudado. Deixemos então a massa com seu futebolzinho lenitivo, com as mentes danificadas pelos vícios ociosos e retardantes, com a mídia manipuladora, com os bolsos vazios porque tiraram de si para dar aos ricos, numa espécie de Robin Hood às avessas. O Brasil ainda está cheio de “Josés” como os de Drummond e de “Pedros” como os de Raul. Brasileiros, Salvem a Pátria Amada!
(Carlos Jazz)


Anexo: O Analfabeto Político:

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
(Berthold Brecht)

sábado, 6 de outubro de 2012

Joseph Ducreux ataca (2)




Conto: A borboleta - por: Carlos Jazz




Leitor, para entender a  história é preciso antes de mais nada que eu lhe passe algumas instruções para o melhor aprofundamento e percepção da experiência do texto: Primeiramente esqueça as cores. Sim, esqueça tudo o que há de colorido no mundo, substituindo pela cor cinza semelhante ao preto e branco das antigas películas, porém é mais cinza, tal como o céu num dia nublado para chover.

Isto pode lhe parecer estranho, mas é assim mesmo que a história se sucede, num ambiente sem o menor resquício de cores, ou emoções. Esqueça as emoções, porque aqui elas serão mais mímicas que vivas. Sem cores, sem vida, sem nada. Um mundo aparentemente desprovido de beleza e de fatos e vida, porém a vida existe e os fatos também. A atmosfera é densa, pesada e silenciosa. Está ficando claro? Espero que sim... sem cores, sem emoções (como as vemos no dia-a-dia), somente silêncio e um clima muito pesado, quase depressivo.

É neste cenário que encontraremos Célio, nosso personagem. Abriu os olhos; acabara de nascer. Fora recebido pelas mãos do médico e ali estavam ainda o pai e dois enfermeiros ajudantes. Ao lado de fora da sala de cirurgia onde o parto foi realizado o esperava a irmã mais velha. Ouviu-se um choro de bebê. As pessoas não tinham cores. O mundo não tinha cores. O som era inexistente. O choro era a única coisa audível naquele momento por todas as alas do hospital. Mais parecia um lamento que choro de criança. O mundo era cinza e mudo.

Ao ser finalmente tido como nascido, o pai abraçou os responsáveis pela realização do parto, porém sem um fio de voz, porque neste mundo além das cores, os sons não eram fatores comuns como em nossa realidade. Todavia o pai estava feliz bem como sua mãe, que sorria satisfeita e orgulhosa ainda no leito. O parto foi normal e saiu melhor que o esperado. Célio por sua vez chorava e não era pouco.
Agora está com três anos de idade. O mundo é totalmente, invariavelmente cinza e mudo. O único barulho que se ouve são os "toc-tocs" dos sapatos no chão madeirado e os "tic-tacs" de um relógio carrilhão. A casa é grande, mas apesar de preenchida parece vazia. Célio brinca só; a irmã está no colegial, o pai trabalhando em seu escritório de advocacia, a mãe está na cozinha preparando o almoço. Não há cores, nem música, nem sons para preencher este cenário. Célio não se importa de brincar só. Pega um carrinho, depois outro e fica empurrando-os para frente e para trás. Pelo movimento dos lábios ele poderia estar tentando imitar o ronco dos motores, entretanto não há sons em cena. A mãe não lhe chama pelo nome, porque não há voz neste universo. O filho não faz barulho de criança porque o mundo é silencioso. Se porventura algo de bom há nisto, é que quando os pais se pegam a brigar, Célio não os ouve, não se atormenta com a histeria nem com os palavreados, nem com as ameaças, nem nada.

O mundo é desprovido de cor e sons, já disse não sei quantas vezes, mas vá lá; dizer o dobro ou triplo disso ainda não seriam suficientes para a imersão nesta atmosfera densa. O fato é que neste mundo cinza, apesar da vida aparentemente retilínea das pessoas, Célio não se importava. A única coisa que o fazia sentir-se alheio era a falta destas cores. Célio nasceu no mundo cinza, porém tinha algo em seu íntimo que o dizia que algo estava faltando..., mas o que era? Nunca viu cor alguma, entretanto sentia saudade delas.

Está agora com dez anos. No caminho para a escola, milhares de pessoas cruzam pelas ruas apressadamente e de maneira egoísta, quase mecanizadas. Ninguém fala nada, nem traz coisa alguma no olhar, apenas caminham por entre as ruas como um gigantesco tráfego de formigas. Célio está no meio da multidão. Mochila nas costas e uma lancheira na mão. Seu lanche será duas maçãs; duas belas e suculentas maçãs cinzas. Está na aula. A professora aponta para o quadro negro (que é cinza) com um resto de giz. Não há na sala nem a voz da professora, muito menos da criançada. Se ela vira-se para o quadro, alguns peraltas lançam bolinhas de papel nos demais... só que sem algazarra. Sem um fio de voz. Todos estão adaptados ao mundo, exceto Célio que sente falta de algo que não sabe o que é.

Começa a namorar aos 18 anos, e podemos vê-lo cantando uma música para uma jovem, enquanto toca um violão. Não há voz em sua canção, nem melodia alguma se ouve de seu instrumento. Os olhos da moça parecem estar apaixonados. Lindos olhos sem cor!  Então deixando-a em casa, volta tranquilamente enquanto liga o rádio de seu carro numa estação muda. O semáforo cinza coordena o trânsito mecanizado. O ronco dos motores é surdo e a poluição é cinza escura.

Chega pontualmente ao trabalho. Está numa gráfica de jornal impresso. O único som ambiente é o das máquinas. Célio é pressionado a dar conta de passar um tanto para o papel. Não gosta disso. O chefe não gosta que ele não gosta disso. Célio não gosta que o chefe não gosta do fato de ele não gostar disso. Os colegas agem indiferentes a tudo. Dia após dia, nesta sinfonia melancólica, segue tocando sua vida. Isto para ele é maçante. Os anos vão passando lentamente como séculos. Célio se desgasta como se realmente esta fosse a proporção.

Quando raramente tirava um tempo para si, ia à praia assistir ao pôr-do-sol incolor, diante de um mar silencioso e instável. Só voltava para casa quando o luar acinzentado aparecia ao escuro céu. Às vezes fitava a imensidão do mar, e a imensidão do céu, e a imensidão do universo. Imaginava o que poderia existir do outro lado, mas a vida continuava e ele não podia parar nisso por muito tempo, então entrava em seu carro cinza e silenciosamente voltava para casa.

Tudo na vida possui uma razão de ser. Célio mantém sua mal fadada rotina. É final de semana. O céu está nublado. Não chove. Tudo está cinza. Tudo está mudo. De repente, uma sirene sem barulho e quando já não esperava mais nada da vida, passa uma borboleta à sua frente. Esta borboleta é diferente das demais. Não é cinza! É verde! - Célio então vai seguindo a borboleta pelas ruas da cidade, sem saber para onde ela o estava levando. Ninguém mais havia reparado na cor daquela linda borboleta. Nem mesmo Célio imaginava que um dia iria encontrar  uma, mesmo carregando em seu íntimo que elas existiam e agora a confirmação estava bem diante de seus olhos!

A borboleta era graciosa, séria, sabia o que estava fazendo. Guiava-o por entre o mundo cinza por caminhos que ele ainda desconhecia. Até que finalmente após algumas horas de caminhada, ultrapassam o limite dos mundos e ele vê-se num universo novo, colorido, cheio de vida, com sons de cachoeira, canto dos pássaros, música instrumental, cheiro de natureza e sabores que ainda não havia provado.
Enquanto Célio adentrava o novo universo, encantado com os raios de sol e com o barulho que lhes fazia o vento uivando por entre as orelhas, em casa o universo incolor continuava entre os seus. Alguém prestava-lhe uma homenagem, mas não havia voz. Uma orquestra fúnebre parecia tocar uma melodia inaudível e  no choro dos saudosos despediam-se em um adeus mudo e sincero. Talvez existisse um pouco de emoção nisso; a terra o encobria, e ele descobria o universo.